terça-feira, janeiro 18, 2005

Bloco pede derrota "copiosa" para a Direita


Luís Fazenda quer um desaire eleitoral dos partidos da coligação, susceptível de condicionar qualquer candidato presidencial daquela área política.
O Bloco de Esquerda vai apresentar-se às próximas eleições legislativas com um conjunto de propostas, susceptíveis de serem aplicadas nos primeiros 100 dias de governação. A revogação do Código de Trabalho, a despenalização do aborto, o retorno dos Hospitais SA ao sector público administrativo e a retirada da GNR do Iraque são algumas das medidas consideradas fundamentais, disse Luís Fazenda, sexta-feira, em Faro, durante a apresentação da lista de candidatos daquela força política pelo Algarve.

O Bloco de Esquerda (BE) está convicto numa derrota "copiosa" da Direita nas próximas eleições legislativas. Com base nesse pressuposto defende a necessidade de um "debate à Esquerda". De acordo com Luís Fazenda esse debate significa a diferença entre um verdadeiro "virar de página em relação às políticas das direitas", ou um simples "dobrar de página". O Partido Socialista (PS) seria, nesse cenário de diálogo, o interlocutor privilegiado. Contudo, a ilustrar a tradicional dificuldade de entendimento entre a Esquerda em Portugal, algumas das palavras mais duras do dirigente nacional e deputado do BE foram, precisamente, para o PS.

Segundo Luís Fazenda, os socialistas, "lamentavelmente, de manhã tem uma opinião sobre um problema nacional e à tarde tem uma outra". O BE aguarda "de forma serena" a apresentação do programa eleitoral do PS, mas nota, desde já, "posições cada vez mais continuístas em relação àquilo que tem sido a corrente dominante da política portuguesa". Para o responsável, "não basta mudar de Governo", são necessárias "políticas alternativas". Vê, por isso, com preocupação as posições assumidas pelo PS em termos de "política fiscal, ambiental ou internacional".

Sobre o actual Governo, Fazenda considera que fazer pior "era impossível", por isso pede um castigo exemplar para os partidos da coligação. Uma punição rigorosa, expressa numa "copiosa derrota nestas legislativas". Um desaire eleitoral capaz de "limitar extraordinariamente" a possibilidade de vitória de "um qualquer candidato das direitas às Eleições Presidenciais", enfatizou. O actual Governo "somou crise à crise", disse, dando como exemplos "o recorde de mais um milhão de desempregados" a atitude "anti-social em relação à pobreza, aos beneficiários do rendimento mínimo e aos trabalhadores". Para o BE, o Governo "incentivou a precariedade do trabalho", com a aprovação do Código Laboral"; foi "fanático e conservador" em relação a um conjunto de problemas sociais importantes, como "a não despenalização do aborto".

Fazenda acusou o Executivo de procurar "reduzir os funcionários a peças da sua máquina de domínio e de direcção através da chamada Reforma da Administração Pública". Esta campanha eleitoral, considerou o dirigente bloquista, é a oportunidade para "levar até ao fim o castigo a esta política da Direita, mostrando que temos alternativas com as políticas de Esquerda". Uma alternativa de desenvolvimento José Manuel do Carmo encabeça a lista do BE por Faro às próximas eleições. Numa intervenção mais centrada na região, o candidato elegeu como principal preocupação do BE a "afirmação de um modelo alternativo de desenvolvimento para o Algarve".

O Bloco defende para a região um novo desenho da via-férrea, a promoção do emprego e da integração dos emigrantes, políticas de saúde e de educação ligadas às questões sociais e o investimento na produção de energia a partir de fontes alternativas. José Manuel do Carmo expressou preocupação com o abandono da serra e o conflito entre o actual modelo de desenvolvimento e a protecção do ambiente, designadamente na gestão dos recursos hídricos, ao mesmo tempo que defendeu a salvaguarda do solo agrícola e a valorização do património natural.

Além do cabeça-de-lista, o BE candidata pelo Algarve, respectivamente, João Romão, Manuela Fernandes, Vidal Marreiros, Vítor Ruivo, Henrique Cabeleira, Ana Guerreiro e João Paulo de Almeida. Como suplentes, concorrem António Pereira, João Vasconcelos, Celeste Baeta, Albano Torres e Bruno Cortes. O mandatário do BE é o antigo responsável na região do Movimento Partido da Terra, Fernando Pessoa, que abandonou a organização quando os dirigentes nacionais decidiram concorrer às eleições coligados com o PSD.
Márcio Fernandes
18 de Janeiro de 2005 11:38 Diário on-line ,Algarve

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