terça-feira, janeiro 25, 2005
O Iraque e o terrorismo internacional
«Invasão fez do Iraque 'campo de treino de terroristas'»
Por Pedro Caldeira Rodrigues.
Jornal "Público", 15 de Janeiro de 2005.
«A guerra está a tornar o Iraque num "campo de treino para terroristas" e a substituir o Afeganistão como centro dessa actividade, de acordo com o novo relatório intitulado "Planificando o Futuro Global". O documento foi elaborado pelo National Intelligence Council (NIC), um "think tank" integrado na estrutura da CIA, os serviços secretos dos Estados Unidos.
O relatório de 120 páginas, o terceiro de um projecto desencadeado em meados da década de 1990, é baseado nas dissertações e comentários de mais de 1000 especialistas norte-americanos e estrangeiros que participaram em cerca de 30 conferências e seminários durante o último ano.
Apesar de o NIC acreditar que a possibilidade de um conflito entre as "grandes potências" é "a mais baixa dos últimos 100 anos", sublinha-se que os factores motivadores do terrorismo internacional não dão sinais de diminuição, e sustenta-se que a "especialização" garantida pelas formações terroristas no Iraque vai afectar o mundo nas próximas décadas. "Neste momento, o Iraque é um palco privilegiado para a actividade terrorista internacional", referiu, citado pelo "Washington Post", o director do NIC, Robert Hutchings. Este treino no terreno", acentua o estudo, contribuirá para formar uma geração de "terroristas profissionalizados".
Numa primeira reacção, a Casa Branca desvalorizou o documento governamental. "Trata-se de um relatório especulativo sobre coisas que podem acontecer no mundo", considerou o responsável pelas relações com os "media" Scott McClellan.
O Presidente George W. Bush tem frequentemente descrito o Iraque como a "frente central na guerra contra o terror" e defende que os EUA devem confrontar a ameaça terrorista no exterior das suas fronteiras. "O relatório confirma que temos a estratégia correcta para vencer a guerra contra o terrorismo", precisou McClellan.
O documento do NIC precisa que o Iraque está a fornecer a possibilidade de "treino, recrutamento e melhoria das qualidades técnicas" para as formações terroristas, como enfatizou David Low, o responsável do Conselho pelas ameaças transnacionais.
Antes da invasão militar anglo-americana do Iraque, em Março de 2003, a CIA considerava que o Presidente Saddam Hussein apenas mantinha "laços circunstanciais" com diversos membros da Al Qaeda, recordou ontem o "Washington Post". Osama bin Laden recusou a ideia sobre a formação de uma aliança com Saddam e encarava-o mesmo como um inimigo do movimento islâmico radical, pelo facto de liderar um Governo laico.
No entanto, a instabilidade aumentou no Iraque após a invasão e o derrube do antigo regime, enquanto se assistiu ao aumento do ressentimento no mundo islâmico face aos EUA. Os especialistas consideram que os membros de grupos radicais estrangeiros que se deslocaram para o Iraque constituem hoje o principal núcleo dos bombistas suicidas, enquanto membros da inteligência norte-americana sugerem que estes estrangeiros estão agora a formar alianças tácticas com antigos combatentes baasistas (o ex-partido único) e outros insurrectos.»
Publicado por gustavosampaio em 11:59 PM Comentários (0) TrackBack (0)
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