sexta-feira, dezembro 17, 2004

A TURQUIA



Passo a citar um artigo jornalístico publicado no diário “A Capital”,de 17 de Dezembro de 2004, assinado por Fernanda Mira:
“Os chefes de estado e de governo da EU, dizem que o país (a Turquia), tem dez anos para sair da “medievalidade” .Neste termo cabe todas as criticas à prática religiosa do povo turco. Quer concordemos ou não com os desígnios do islamismo, ele é a essência da Turquia”.
Conclui assim a jornalista o artigo: “Veremos se não se concretizam as palavras de Kadhafi;(haverá consequências da entrada do cavalo de Tróia).

Se não fosse esta opinião encontrar ultimamente eco no seio de muita boa gente, não me daria ao trabalho de a comentar. Mas o que se passa é que este tipo de argumentação colhe a simpatia de muitos notáveis e também de muito do que chamamos “o homem de rua”. Desta forma e dito de maneira directa, esta argumentação poderia ser traduzida da seguinte maneira (A Turquia até é um país simpático (e exótico), só que lá infelizmente predomina uma religião “feudalizante”) .
Muitos dos defensores desta tese, não dizem uma palavra sobre a tortura de sindicalistas, sobre o encarceramento de militantes de esquerda, sobre a cruel repressão sobre os curdos (esta repressão é vista com bons olhos por alguns, mas era um crime quando os repressores eram soldados a mando de Sadam Hussein.
Pode-se dizer que uma boa parte dos nosssos esclarecidos já pegou o vírus da intolerância religiosa, e foram em definitivo contagiados pelas teorias de Bush e dos Bin Ladens.
De facto o grande pecado original da Turquia é o imenso poder do complexo militar –armamentista, poder esse que impressiona qualquer um, basta visitar Konia e percorrer 70 Km. de estrada sempre bordejada por enormes fábricas de armamento.
O super exército Turco tem um poder que invade o domínio político e que esvazia em grande parte a essência do regime dito democrático.
Já tive oportunidade de ver esse mega exército em acção, pois estava na Turquia quando do golpe de estado dirigido pelo general Evren em1980.
Estive na praça Aksaray debaixo de fogo durante um quarto de hora e pude ver como uma unidade de PMs, matou todos os ocupantes de um velho Buick que teve uma trajectória duvidosa, dando a entender que se propunha atropelar um grupo de soldados turcos.
Na semana seguinte ao golpe de estado, foram fuzilados centenas de sindicalistas e militantes de esquerda.
Alguns desses generais estão ainda hoje em lugares chave do exército turco.
Mas apesar de tudo isto, algumas cabeças iluminadas, só vêem o perigo do cavalo de tróia islâmico. Eles são os defensores da pureza religiosa da Europa e não querem misturas (cada um no seu lugar). Talvez num futuro próximo, sejam vistos a predicar pelas estradas em favor da constituição de uma inquisição pós-moderna.

Basta de fugir ao essencial da questão Turca. É tempo da Europa fazer uma monitorização eficaz em relação aos direitos humanos e garantias, e ao respeito pelas culturas minoritárias. Essa monitorização é absolutamente necessária, pois também os Turcos são especialistas na construção de relatórios que não correspondem às realidades no terreno, (afinal, não somos só nós!).

Fernando Gregorio

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