João Vasconcelos (*)
As alterações ao programa de Matemática do Ensino Básico, que têm estado em discussão pública, prevêem o uso das calculadoras desde o 1º ciclo, o que está a gerar polémica, dividindo as opiniões entre professores, especialistas e outros intervenientes.
A proposta do Ministério da Educação para o reajustamento do programa da disciplina de Matemática defende que os alunos devem usar calculadoras e computadores para a realização de cálculos, na informática e na representação de objectos geométricos ao longo de todos os ciclos de ensino. Para Nuno Crato, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, este reajustamento do programa, ao insistir demasiadamente na máquina de calcular e não colocando qualquer limitação no seu uso não é o mais correcto, pois “o ensino da Matemática é sobretudo o ensino do pensamento, pelo que os elementos essenciais devem continuar a ser o lápis e o papel”.
Já Rita Bastos, Presidente da Associação de Professores de Matemática se coloca ao lado do Ministério da Educação, defendendo o uso das calculadores no ensino básico, mesmo no 1º ciclo, embora não indiscriminadamente e sem substituir o cálculo mental. A Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do M E, de onde partem as propostas, considera que, nos dias de hoje, a calculadora deve ser usada pelos alunos como se usam os dedos, mesmo no 1º ciclo.
Depois de auscultar alguns professores, pais e antigos alunos, sobre a matéria em apreço, considero que a opinião da Sociedade Portuguesa de Matemática é a mais acertada e que, esta reforma do Ministério da Educação é mais uma, a par de tantas outras, condenada ao fracasso e que, no futuro, o país pagará bem caro. A esmagadora maioria das opiniões acha que o uso das calculadoras na Matemática devia ser limitado, sendo até dispensadas no 1º ciclo. Muitos jovens até se sentem envergonhados por não saberem fazer uma simples operação matemática de multiplicar ou dividir, recorrendo ao cálculo mental, culpando a utilização excessiva da calculadora quando andaram no Ensino Básico. No fundo, estão a fazer uma avaliação negativa do sistema de ensino que frequentaram.
Com efeito, a aposta das máquinas de calcular logo no 1º ciclo escolar afigura-se demasiado arriscado, pois o seu uso de forma indiscriminada vai levar à perda da destreza do cálculo. A calculadora deverá funcionar como um recurso auxiliar do acto de ensinar e não como um elemento central, como defende o Ministério da Educação. Claro que em operações mais complexas, como por exemplo o cálculo de juros e de percentagens, os alunos deverão recorrer à máquina de calcular.
Mas o Ministério da Educação prefere continuar a enveredar pelo caminho do autismo, não houve aqueles que no dia a dia trabalham no terreno, não tem em conta as experiências acumuladas nem aposta em projectos sustentáveis com futuro, valorizando o factor humano e uma escola pública que deverá ser de qualidade. Ao invés, incentiva projectos fabricados nos gabinetes, bem distantes das realidades quotidianas da sociedade real, condenados assim ao insucesso. Com governos destes, não admira que o abandono escolar no nosso país se situe nos dias de hoje na ordem dramática dos 40%.
(*) Professor e Autarca, membro da Assembleia Metropolitana do Algarve
pelo Bloco de Esquerda
As alterações ao programa de Matemática do Ensino Básico, que têm estado em discussão pública, prevêem o uso das calculadoras desde o 1º ciclo, o que está a gerar polémica, dividindo as opiniões entre professores, especialistas e outros intervenientes.
A proposta do Ministério da Educação para o reajustamento do programa da disciplina de Matemática defende que os alunos devem usar calculadoras e computadores para a realização de cálculos, na informática e na representação de objectos geométricos ao longo de todos os ciclos de ensino. Para Nuno Crato, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, este reajustamento do programa, ao insistir demasiadamente na máquina de calcular e não colocando qualquer limitação no seu uso não é o mais correcto, pois “o ensino da Matemática é sobretudo o ensino do pensamento, pelo que os elementos essenciais devem continuar a ser o lápis e o papel”.
Já Rita Bastos, Presidente da Associação de Professores de Matemática se coloca ao lado do Ministério da Educação, defendendo o uso das calculadores no ensino básico, mesmo no 1º ciclo, embora não indiscriminadamente e sem substituir o cálculo mental. A Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do M E, de onde partem as propostas, considera que, nos dias de hoje, a calculadora deve ser usada pelos alunos como se usam os dedos, mesmo no 1º ciclo.
Depois de auscultar alguns professores, pais e antigos alunos, sobre a matéria em apreço, considero que a opinião da Sociedade Portuguesa de Matemática é a mais acertada e que, esta reforma do Ministério da Educação é mais uma, a par de tantas outras, condenada ao fracasso e que, no futuro, o país pagará bem caro. A esmagadora maioria das opiniões acha que o uso das calculadoras na Matemática devia ser limitado, sendo até dispensadas no 1º ciclo. Muitos jovens até se sentem envergonhados por não saberem fazer uma simples operação matemática de multiplicar ou dividir, recorrendo ao cálculo mental, culpando a utilização excessiva da calculadora quando andaram no Ensino Básico. No fundo, estão a fazer uma avaliação negativa do sistema de ensino que frequentaram.
Com efeito, a aposta das máquinas de calcular logo no 1º ciclo escolar afigura-se demasiado arriscado, pois o seu uso de forma indiscriminada vai levar à perda da destreza do cálculo. A calculadora deverá funcionar como um recurso auxiliar do acto de ensinar e não como um elemento central, como defende o Ministério da Educação. Claro que em operações mais complexas, como por exemplo o cálculo de juros e de percentagens, os alunos deverão recorrer à máquina de calcular.
Mas o Ministério da Educação prefere continuar a enveredar pelo caminho do autismo, não houve aqueles que no dia a dia trabalham no terreno, não tem em conta as experiências acumuladas nem aposta em projectos sustentáveis com futuro, valorizando o factor humano e uma escola pública que deverá ser de qualidade. Ao invés, incentiva projectos fabricados nos gabinetes, bem distantes das realidades quotidianas da sociedade real, condenados assim ao insucesso. Com governos destes, não admira que o abandono escolar no nosso país se situe nos dias de hoje na ordem dramática dos 40%.
(*) Professor e Autarca, membro da Assembleia Metropolitana do Algarve
pelo Bloco de Esquerda
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